terça-feira, novembro 07, 2006

A MÍDIA E A DEMOCRACIA

Na campanha presidencial, muitas foram as reclamações sobre a parcialidade da mídia. Descontando os evidentes exageros dos envolvidos em más notícias, que sempre encontram um complô na divulgação das notícias, foi visível a opção dos grandes meios de comunicação a favor de Alckmin.
Não havia, é claro para todos, uma contraposião entre socialismo e capitalismo, ou entre o que classicamente convencionou-se chamar de esquerda ou direita. Os dois lados eram capitaneados por partidos da tradição social-democrata - PT e PSDB - acompanhados de partidos de esquerda e de direita: enquanto o PT tinha o PCdoB à esquerda e o PP à direita, o PSDB tinha o PPS à esquerda e o PFL à direita.
Os planos de governo dos dois candidatos se tocavam em vários pontos.
Porém, evidentemente, havia pontos que os diferenciavam.
Um ponto, em especial, merece destaque: a postura frente os gastos públicos.
Lula tem um discurso favorável à ampliação de políticas de transferência de renda, não sendo, para ele, fundamental o corte de gastos, que virá, por uma necessidade estrutural do Estado, mas de forma modesta. Alckmin, pelo contrário, prioriza a redução do tamanho do Estado.
Não vamos nos aprofundar na análise das posições, mas as duas têm virtudes e problemas.
O fato é que, como empresas, os grandes meios de comunicação alinharam-se com a posição favorável à redução do tamanho do Estado. Essa era uma postura anunciada. Bastava ver o enfoque que as reportagens davam, na Globo, na Veja, no Estadão ou na Folha, nos últimos anos, sobre o bolsa família. Os casos de sucesso, com a saída de indivíduos de carne e osso da miséria nunca viraram notícia de destaque. No entanto, escândalos de uso idevido de recursos do programa tinham um destaque espetacular.
Até aí tudo bem. Afinal, ninguém pode exigir de homens que sofrem conseqüências das decisões estatais se distanciem da política pelo simples fato de serem jornalistas. Todos nos posicionamos e os meios de comunicação também devem ter posição. O problema está na forma como isso se deu, sem transparência, sob uma falsa imagem de impacialidade.
Determinados a fazer valer seus interesses, esqueceram até de dialogar sobre a visão de Estado que defendem, exagerando no destaque de um debate moral, no qual acreditavam ser fácil derrubar Lula. Basta ver o pequeno destaque que os escândalos têm após o pleito. O problema ainda existe, mas o interesse em destacá-lo se foi.
Estamos no momento adequado para discutir a relação entre democracia e mídia. Está claro para todos que a concentração do poder em poucos órgãos é nocivo para a democracia. A resistência à avassaladora campanha dos grandes meios veio da internet, que, apesar de ter surtido efeito nessas eleições, pode não funcionar como regulador em outros momentos.
Acho que, nesse debate, temos que evitar os extremos. Não podemos aceitar posturas que transfiram ao Estado o controle dos conteúdos. Por outro lado, devemos buscar meios de divulgação de todas as posições políticas que formam a sociedade, limitando o poder das atuais empresas donas dos meios de decidir quais idéias terão ou não repercussão.
A ampliação do direito de antena para organizações sociais e as rádios e televisões comunitárias são instrumentos disponíveis para uma implantação imediata.
O debate está aberto e não podemos perder a oportunidade.

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