sexta-feira, outubro 27, 2006

DOMINGO É O DIA

Domingo, tudo acabará. Melhor dizendo, tudo recomeçará.
A campanha, como já anunciavam os meses que a precederam, foi radicalizada. No primeiro turno, todos contra Lula. No segundo, um freio de arrumação colocou, de novo, cada coisa em seu lugar. O debate voltou a ser politizado e a máscara ética, que marcou os candidatos de oposição no primeiro turno, caiu.
Agora, esperamos que surjam as condições para um mínimo acerto entre as diversas forças políticas. Não haverá reforma política com bons resultados sem que PT, PSDB, PFL, PMDB e PDT, ou seja, os maiores partidos, tenham a disposição para resolver os problemas já há muito identificados.
O sistema eleitoral e o sistema de governo estão falidos. As alternativas passam pela fidelidade partidária, pelo voto distrital misto, pelo rigoroso controle dos gastos de campanha (talvez pelo financiamento público), pela manutenção da cláusula de barreira, dentre outras.
Tudo deve ser voltado a corrigir as falhas de um sistema vocacionado para as crises, no qual as maiorias são acertadas após as eleições, sabe-se lá a que custo.
Que o país, a partir de segunda, construa a estrutura para não repetir as crises dos anos que passaram.
Boa sorte a todos.

terça-feira, outubro 24, 2006

PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

Qualquer pessoa razoavelmente informada - e com uma pitada de boa fé - sabe que é impossível fazer os cortes que o PSDB propõe nos gastos públicos apenas com mais eficiência na arrecadação e com o combate à corrupção. O espaço para cortes é mínimo, a não ser que demita servidores e privatize algumas empresas. Pode, ainda, fazer corte em políticas sociais e investimentos. Assim, o que Alckmin tem feito é dizer meias verdades, já que fala que fará cortes, mas enrola quando cobram sobre a forma de fazer tais cortes.
Evidentemente que a participação do Estado na economia, no Brasil, é enorme. Mas, o maior vilão é o pagamento de juros. Reduzir os gastos, com saída do Estado de várias áreas, negligenciado suas responsabilidade, pode resultar em uma situação social muito pior da que já conhecemos.

segunda-feira, outubro 23, 2006

A ESCOLHA DAS NOTÍCIAS

Se a nossa imprensa dedicasse metade da capacidade de especular contra Lula para especular sobre as atividades do Abel Pereira, o Alckmin não teria nem trinta por cento das intenções de votos.
O rapaz tem atividades, no mínimo, estranhas. Figura das sombras, na administração tucana no Ministério da Saúde, reuniu-se várias vezes, quando o escândalo do dossiê ainda era um projeto, com emissários dos Vedoin. Agora, diz que lhe ofereceram um dossiê contra o PT.
As notícias sobre ele são tão curtas e desinteressadas que apenas servem para afirmar os verdadeiros interesses por trás da escolha entre as notícias às quais será dado destaque.

domingo, outubro 22, 2006

CONTINUA O MASSACRE

O Jornal Nacional não deu um segundo às notícias que envolviam o empresário tucano Abel e o Senador Antero Paes de Barros com a máfia dos sanguessugas. Devem ter esquecido!

sábado, outubro 21, 2006

INTERESSANTE NOTÍCIA - QUE A IMPRENSA AINDA NÃO REPERCUTIU (NÃO SEI A RAZÃO...)

"Darci Vedoin confirma que Antero acertou propina
18/10/2006 às 18:42Atualizada em 20/05/2006 às 20:51-->
Apontado como um dos chefes da máfia das ambulâncias, o empresário Darci Vedoin confirmou, em depoimento à Justiça Federal de Mato Grosso, que esteve no gabinete do senador Antero Paes de Barros (PSDB) para tratar de emendas ao Orçamento da União. As emendas beneficiariam a Planam, principal empresa do esquema de venda superfaturada de unidades móveis de saúde a prefeituras. Vedoin manteve as informações repassadas pelo filho, Luiz Antonio Trevisan Vedoin, na semana passada. Segundo eles, quatro municípios foram contemplados com unidades móveis de saúde adquiridas da Planam com recursos oriundos de emendas apresentadas por Paes de Barros. No gabinete do parlamentar, Darci Vedoin teria acertado o pagamento de 10% sobre o valor da “cota-parte” do tucano na emenda de bancada. Os Vedoin, pela primeira vez em juízo, sustentam que o próprio Paes de Barros pediu que a propina fosse repassada diretamente ao deputado federal Lino Rossi (ex-PSDB/ PP). As unidades móveis de saúde foram entregues aos municípios de Denise, Mirassol D’ Oeste, Nossa Senhora do Livramento e São José dos Quatro Marcos. A partir de acusação feita anteriormente à reportagem da revista Veja, a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Sanguessugas incluiu Paes de Barros no rol de investigados por suspeita da apresentação de emenda no valor de quase R$ 400 mil. A propina seria de R$ 40 mil.
Da Redação/ Catarine Piccioni" (Site Olhar Direto)
http://www.olhardireto.com.br/noticias/noticia.asp?cod=14463

A "IMPARCIALIDADE" DE NOSSA IMPRENSA

Na página inicial do UOL não há, neste momento, referência ao envolvimento do Abel, empresário ligado ao PSDB, com a máfia dos sanguessugas, revelado no depoimento do Darci Vedoin.
Nas chamadas do Jornal Nacional, nos intervalos das novelas, nenhum sinal de que a notícia é importante. Silêncio total.
Porém, o UOL tem notícias contra Lula, em destaque.

QUE IMPRENSA COMPLICADA !

Sempre achei que as redações de nossos jornais e revistas agem com a lógica dos departamentos comerciais. São empresas e não dão tiros nos pés. Mas nunca imaginei que pudessem ser tão descaradas, omitindo que têm um candidato - que seria bom para o Brasil se elas assumissem - e fazendo claramente campanha política. Alckmin tem apoio não declarado - o mais perigoso - de praticamente toda a grande imprensa brasileira. Vejam o site do Estadão. Hoje, 21/10, às 13h30, após o Vedoin ter confirmado a participação no esquema do Abel, mensageiro do PSDB, no esquema de corrupção, não há qualquer referência ao fato. No entanto, eles estão mantendo no site a foto de Alckmin ridiculamente vestido com roupas cheias de logotipos de estatais. A matéria é do dia 18/10, mas, como esse é o atual calcanhar de aquiles da sua campanha, repercutir ao máximo a sua negativa da acusação de privatista é muito bom para ele.
Aliás, a longevidade das notícias contra Lula é enorme. Estão ainda lá a notícia de que Alckmin disse que se Lula ganhar o governo 'acaba antes de começar' e a notícia de que as oposições querem a OAB acompanhando as investigações (como se sabe, a OAB disse que não é polícia da polícia).
É uma vergonha.

sexta-feira, outubro 20, 2006

PSDB E MENTIRAS

O documento que segue é uma promessa feita em 1994 por Mário Covas, dizendo que não privatizaria o Banespa, que foi privatizado, posteriormente, em seu governo.

Quem acredita na promessa de Alckmin quando diz que não vai privatizar?

VOTAR EM LULA

O meu voto em Lula decorre, principalmente, de minhas convicções democráticas, que me levam a questionar a exclusão social que marca o nosso país. Não há democracia quando a distância entre os que têm mais e os que têm menos é tão grande. Em situações como a atual, apenas uma intervenção estatal, dirigida à grande massa de excluídos, com políticas sociais adequadas, pode dar resultado.

ALCKMIN E OS TERMOS INDETERMINADOS

Escutei hoje a entrevista do Alckmin na CBN. Ele não conseguiu dar explicações para a principal contradição do seu discurso: promete mil coisas que custam muito (estradas, hospitais, defesa de fronteiras...), mas diz que vai fazer profundos cortes de despesas. Como a margem de cortes hoje, em custeio, é mínima, ele não diz onde cortará. Só é possível fazer o que ele promete se privatizar, demitir pessoal e repassar para a iniciativa privada a concessão de estradas. Mas ele nega tudo. O máximo da entrevista foi quando perguntaram sobre previdência e ele disse que Lula faz mal aos aposentados, quando veta o aumento de 16 por cento. Assustado, Sardenberg, que é defensor de cortes, perguntou se ele daria o aumento. Ele enrolou. Perguntado de novo, pelo atônito reporter, ele disse que dará, nem que seja parcelado, o maior aumento que puder. Ou seja: não disse nada. Pois, caso ele ache que não é possível dar aumento nenhum, zero por cento já será o maior aumento possível.
Cada dia ele passa mais a imagem de irresponsável, pois fala sem ligar para as conseqüências. E cada dia estou mais convicto de que "É Lula de novo!".

quinta-feira, outubro 19, 2006

UM DIA NA ERA DO TUCANATO


Esta é uma sinopse de varios jornais do dia 18/05/1997, aleatoriamente escolhido, para lembrar os bons tempos do Tucanato.



JORNAL DO BRASIL
- Por trás do escândalo da compra de votos para garantir a aprovação da emenda da reeleição se escondem também interesses políticos sobre o domínio da Zona Franca de Manaus. As empresas instaladas lá geram um faturamento de R$ 13 bilhões ao ano e a Superintendência do Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus (Suframa) administra incentivos fiscais de cerca de R$ 3 bilhões por ano. (pág. 1 e 3)
- A nomeação do senador Íris Rezende (PMDB-GO) para o Ministério da Justiça levantou dúvidas sobre os destinos do ministro interino, Milton Seligman, e dos principais assessores da pasta. Especula-se dentro do ministério que eles serão mantidos em seus cargos porque, contando com uma equipe que está funcionando de forma entrosada, Íris ficaria mais livre para dar atenção ao que o Governo quer dele no momento: o empenho nas negociações com a bancada peemedebista para garantir a reeleição e impedir a criação da CPI sobre a compra de votos de deputados. (pág. 4)
- O balanço do Programa Nacional de Desestatização (PND) e da dívida pública federal feito pela Trend Consultoria Econômica para o "Jornal do Brasil" mostra que o programa de privatização já arrecadou US$ 18,2 bilhões, mas a dívida mobiliária federal não pára de crescer. Deste total, apenas US$ 8,3 bilhões são em dinheiro; o restante, US$ 9,8 bilhões são moedas podres, usadas para cancelamento de dívida. Parece uma montanha de dinheiro, mas revelaram-se uma gota d'água no poço sem fundo do endividamento interno. (pág. 29)
EDITORIAL
"Desafio do futuro" - A fase preparatória da terceira reunião dos ministros de Comércio do hemisfério, em Belo Horizonte, que debateu a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), antecipou o que de fato ocorreu: tudo foi adiado para a quarta reunião ministerial, em São José da Costa Rica, em fevereiro de 98, um mês antes da Segunda Cúpula Hemisférica, marcada para Santiago do Chile. (...) Fernando Henrique mandou um sábio e comedido recado a Washington: economias como as do Mercosul precisam de tempo para se ajustar à globalização, a Alca não deve constituir uma vitória dos que buscam negócios imediatos. A participação brasileira na integração hemisférica não se fará em detrimento de nossas relações com outros blocos, sobretudo com os nossos vizinhos que já ultrapassaram a fase de área de livre comércio e já formam uma união aduaneira. (...) (pág. 10)
COLUNAS
(Coisas da Política - Dora Kramer) - Mesmo reconhecendo que a confusão provocada pelas denúncias de compra de votos para a reeleição é de boa monta e difícil solução, a tendência no Governo é acreditar que o presidente Fernando Henrique Cardoso salva-se de mais essa. Ou seja, daqui a pouco tudo cai no vazio, a CPI da Câmara não se instala e logo esse escândalo vai para o mesmo arquivo morto onde dormem tantos outros. Uma certeza perigosa, porque essas coisas todo mundo sabe como são, uma hora pegam no tranco e ninguém controla mais nada. Apesar disso, pode ser que o Governo tenha razão. (...) O Governo sabe também que pode pouco ou quase nada contra isso. Resta a ele a inquietação baseada na impotência diante de denúncias que vêm e que vão sem resultados concretos. E, por essa avaliação, a falta de compromisso com as consequências acaba gerando uma sensação gelatinosa de impunidade geral. (...) (pág. 2)
(Informe JB - Maurício Dias) - Antes de chancelar o nome do senador Íris Rezende, o presidente Fernando Henrique convidou o senador Antônio Carlos Magalhães para uma conversa. FH estava preocupado com possíveis sequelas do confronto entre ACM e Íris na disputa pela presidência do Senado. ACM não criou obstáculos. (pág. 6)
FOLHA DE SÃO PAULO
- "Senhor X" diz ter mais fitas da compra de votos
- O "Senhor X" afirma em entrevista à "Folha" que possui mais fitas sobre a compra de votos a favor da reeleição. "Tenho ainda muitas fitas, com muito mais pessoas". Ele é o autor das gravações em que os deputados acreanos Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL, revelam venda de voto por R$ 200 mil, envolvem outros três deputados do Acre e citam o ministro Sérgio Motta, das Comunicações. "O que já foi tornado público é mais do que suficiente para provar a bandalheira em torno da reeleição", afirma. "Parece que para uma punição ser efetuada é necessário ter milhares de provas". Ao longo de quase três horas de conversa, permaneceu calmo e tomou um copo de vinho. Para ele, "o argumento de que só cinco deputados podem ter vendido os votos é ridículo", porque "lá no Acre ocorrem tantas irregularidades como no restante do País". (pág. 1 e Brasil)
- Empresas da Zona Franca de Manaus financiaram a campanha de Amazonino Mendes (PFL) ao governo do Amazonas em 1994. De um total de R$ 1,3 milhão doado para a campanha, apenas R$ 45 mil não tiveram como fonte empresas da Zona Franca. Acusado de pagar R$ 200 mil a cinco deputados do Acre para votarem pela reeleição, Amazonino condicionou seu apoio a FHC à retomada do controle da Suframa. (pág. 1 e 1-14)
- O deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE), presidente da comissão de sindicância que investiga a compra de votos para aprovação da reeleição, acha que os eventuais corruptores só serão investigados em uma CPI. "Quando tem corrupto, tem corruptor", diz. Ele aguarda a comprovação da autenticidade das gravações com os deputados Ronivon Santiago e João Maia. Se isso ocorrer, apoiará a criação de CPI para o caso. (pág. 1 e 1-12)
EDITORIAL
"Para evitar uma democracia corrupta" - A revelação de que dois deputados federais receberam dinheiro para votar a favor da emenda da reeleição confirma o que todos suspeitavam - sem que houvesse provas - desde janeiro, quando ela foi aprovada pela Câmara. Houve negociações de todo tipo, numa gama que vai da legitimidade duvidosa até a pura e simples corrupção. Este jornal apoiou o direito de o presidente da República disputar um mandato consecutivo nas urnas, embora preferisse que tal mudança da regra fosse decidida em plebiscito. Essa teria sido a fórmula mais democrática e a única capaz de evitar que episódios patéticos, como os revelados agora pelo repórter Fernando Rodrigues, comprometessem a tese. Infelizmente, apenas a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar as responsabilidades e identificar os infratores devolverá, ao trâmite da emenda que faculta a reeleição, o mínimo de legitimidade de que ela precisa para merecer o respeito da opinião pública. (...) (pág. 1)
COLUNA
(Painel) - Um membro do Governo diz que FHC terá duas semanas fundamentais pela frente para ver se um de seus pilares políticos foi afetado pela denúncia de compra de votos na reeleição: o da honorabilidade. A resposta virá em pesquisas de opinião.
- A pesquisa Datafolha de anteontem fortalece a tese de que as duas próximas semanas são fundamentais, pois mostrou queda de FHC entre os formadores de opinião (mais ricos e mais instruídos), apesar de ser este o grupo que sempre o avalia melhor.
- Em conversa recente no Alvorada, FHC disse que se sente maltratado e abandonado. Queixou-se especificamente dos segmentos da sociedade civil que apóiam os programas do Governo, como o de privatizações, mas não reagem às críticas.
- O PSDB vai iniciar caravanas pelo País. Para defender o Governo, desgastado com a denúncia de compra de votos para a reeleição. O calendário sai na primeira reunião da Executiva do partido. (pág. 1-4)
O ESTADO DE SÃO PAULO
- Sonho político na Amazônia provocou crise
- Há um sólido condomínio eleitoral nas duas margens do rio Amazonas. Com uma teia de acordos políticos e negociais, tecida nos dois anos em que o orçamento triplicou, o governador do Amazonas, Amazonino Mendes, estendeu seu poder muito além das divisas do estado. Passou a influir também sobre as bancadas parlamentares do Acre, Rondônia e Roraima. Até a semana passada, era uma peça-chave do Planalto e do PFL na definição das maiorias nos plenários da Câmara e do Senado. As denúncias sobre compra de votos no Congresso colocaram sob suspeita seu grupo, no qual se destaca o governador do Acre, Orleir Cameli, que conquistou fama por envolvimento com contrabando, corrupção e falsificação. Amazonino Mendes quer mais. Projeta a criação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia Ocidental. Essa agência substituiria a Suframa e a Sudam e teria jurisdição e poderes ampliados, com um orçamento anual próximo de R$ 500 milhões, a partir de taxas sobre importações e administração de incentivos fiscais. (pág. 1 e A12)

COLUNA
(Coluna do Estadão) - Com a nomeação de Íris Rezende e Eliseu Padilha, o Governo espera os votos do PMDB para aprovar a reforma administrativa. Mas não está muito otimista. Acha que consegue preservar o artigo que quebra a estabilidade do servidor público, mas tem dúvidas quanto ao destaque que permite a demissão por isuficiência de desempenho. Sem esse item, a reforma fica capenga.
- De Amsterdã, na Holanda, o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) mandou fax autorizando a inclusão de seu nome no requerimento para instalação da CPI da reeleição. O que somou 218 assinaturas. Os aliados do Governo tiveram de aceitar, pois eles mesmos, em outra ocasião, acolheram a retirada de assinaturas de deputados por fax. (pág. A6)
O GLOBO
- Empreiteiras no poder na região norte
- O escândalo da compra de votos trouxe à tona as ligações de empreiteiros com autoridades da Região Norte. O governador do Amazonas, Amazonino Mendes, por exemplo, aluga a casa de um empresário que tem contratos com a prefeitura de Manaus. No Acre, uma obra foi repassada para a empreiteira da família do governador Orleir Cameli. (pág. 1 e 3 a 12)
- O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, saiu em defesa do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, atingido pelas denúncias de intermediação na compra de votos para a reeleição. Antônio Carlos chamou de moleques e malandros os parlamentares que vendem votos e pediu rito sumário para crimes contra o Erário. (pág. 5)
- As denúncias sobre a compra de votos para a reeleição fizeram com que o Governo começasse a perceber uma grande resistência do Congresso ao estilo de fazer política do ministro das Comunicações, Sérgio Motta. A irritação dos parlamentares governistas chegou ao máximo com duas de suas declarações. Na primeira, reclamou dos pedidos de deputados e afirmou que "nem pelado numa sauna" poderia falar com alguns dos integrantes da base governista. Na segunda, encarnou a voz do presidente Fernando Henrique e fez com que os líderes se sentissem desimportantes no esquema político. Segundo Motta, 95% de suas palavras refletem o que pensa o Presidente. Os outros 5%, diz o ministro, Fernando Henrique ainda não pensou. (pág. 5)
COLUNAS
(Panorama Político - Tereza Cruvinel) - Fernando Henrique parece mesmo acreditar-se vestido de tefal, aquele material anti-aderente que não deixa o ovo grudar na frigideira nem as denúncias pegarem na biografia de certos políticos. Mas, no frigir da crise da denúncia sobre compra de votos, ele e o seu PSDB perderam sozinhos, deixando o PFL e o PMDB no lucro. E a oposição também, pois durante algum tempo deixará de soprar apito para tocar um sonante trombone. (...) (pág. 2)

CORREIO BRAZILIENSE
- Acusado de comprar votos para aprovar a emenda da reeleição, o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PSDB), gastou R$ 295 milhões, em 1995, sem fazer licitação. A maior parte do dinheiro foi para empreiteiras, entre elas a Marmud Cameli, apontada como intermediária na compra de votos de cinco deputados. (pág. 1, 8 a 15)
EDITORIAL
"O joio e o trigo" - Em sua primeira manifestação a respeito das denúncias de compra de votos na Câmara para aprovação da emenda da reeleição, o presidente Fernando Henrique foi claro e objetivo: exigiu apuração rigorosa das acusações. Não se poderia esperar outra atitude de um chefe de Estado diante de denúncias de tal gravidade. (...) É preciso, no entanto, em meio a tudo isso, saber separar o joio do trigo. Há as denúncias e a necessidade de investigá-las e punir os responsáveis - e há a tentativa de exploração política desses acontecimentos. Não faz sentido querer paralisar o processo de reformas constitucionais a pretexto de acusações que envolvem insignificante (do ponto de vista numérico) parcela do Legislativo. (...) As acusações, repita-se, são graves e não podem deixar de ser apuradas, mas não devem servir de pretexto para paralisar o processo legislativo ou para encurralar o Governo. Seria um desserviço ao País. (pág. 26)
ZERO HORA
- No Acre, quase todo mundo sabe que contar segredos para o deputado Ronivon Santiago é uma grande temeridade. Não é a primeira vez que Ronivon deixa o governador Orleir Cameli em maus lençóis pela sua indiscrição. Antes do senhor X - o homem que entregou para a "Folha de S. Paulo" gravações nas quais se denuncia um esquema para comprar votos favoráveis à reeleição -, o deputado estadual Wagner Salles (PMDB) ouviu Ronivon dizer que Cameli pagava uma mesada de R$ 10 mil aos 16 deputados da sua base de sustentação para manter o apoio. A conversa ocorreu em um vôo de Boa Vista (RR) para Brasília. (pág. 6)
- O taxista Valcy de Souza Campos foi a única pessoa no Acre a obter uma concessão para montar uma retransmissora de televisão no estado desde o início do Governo Fernando Henrique Cardoso. De acordo com o presidente da Comissão de Licitação do Dentel em Rio Branco, Oscar de Souza Lima, com a posse de Sérgio Motta no Ministério das Comunicações, todos os processos que existiam foram barrados. Há vários pedidos de concessão esperando no Dentel. Valcy de Souza Campos foi o único a quebrar o rigor do Ministério das Comunicações. (pág. 16)
REVISTAS
VEJA
TÍTULO DE CAPA
- REELEIÇÃO - A compra de votos no Congresso
BRASIL: A VERDADE DOS FALASTRÕES - A reeleição e o balcão onde se trocam poucos votos por milhares de reais. (pág. 22 a 29)
O GOVERNO DIZ AUSENTE (Flávio Pinheiro) - A privatização da Vale falhou na possibilidade de ter algum saldo pedagógico. (pág. 19)

ISTOÉ
TÍTULOS DE CAPA
- "DEPUTADOS COMPRADOS VIERAM COM DEFEITO" - O humor escrachado do Casseta & Planeta dá o tom da política no País
- SÉRGIO MOTTA - Um ministro contra a parede
DEPUTADOS DE ALUGUEL - O escândalo da compra de votos para aprovar a reeleição une a base do Governo no Congresso e FHC completa a reforma ministerial entregando duas pastas ao PMDB. (pág. 20 a 26)
SERJÃO SAI DE CENA - Ministro vai à Europa e FHC decide colocá-lo na geladeira para esfriar crise. (pág. 24 a 26)

VAMOS RECORDAR O TEMPO DO TUCANATO?

Sob suspeita
Diálogos exclusivos dos grampos no BNDES acentuam a interferência do governo no leilão da Telebrás(CartaCapital 87, de 25/11/1998)
Por Bob Fernandes
* O negócio tá na nossa mão, sabe por que Beto? Se controla o dinheiro, o consórcio. Se faz aqui esses consórcios borocoxôs, são todos feitos aqui. O Pio (Borges, vice-presidente do BNDES) levanta e depois dá a rasteira. (Luiz Carlos Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, em conversa com o irmão José Roberto, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior.) * Temos que fazer os italianos na marra, que estão com o Opportunity. Combina uma reunião para fechar o esquema. Eu vou praí às 6h30 e às 7 horas a gente faz a reunião. Fala pro Pio que vamos fechar (os consórcios) daquele jeito que só nós sabemos fazer. (Luiz Carlos Mendonça de Barros para André Lara Resende, presidente do BNDES, sobre a intenção de operar em favor do consórcio integrado pelo banco de investimentos Opportunity e a Telecom-Itália.) * Vai lá e negocia, joga o preço para baixo. Depois, na hora, se precisar, a gente sobe e ultrapassa o limite. (André Lara Resende para Pérsio Arida, sócio do Opportunity.) A revista CartaCapital ouviu fitas gravadas na presidência do BNDES. A revista Veja conta ter tido acesso às duas fitas que o governo enviou para a Polícia Federal. São muitas as fitas. Fala-se em 27, mas certeza só tem quem participou dos grampos. As fitas ouvidas por CartaCapital têm trechos – os explosivos fragmentos acima – que, pelo relato de Veja, não constam das fitas repassadas pelo governo à Polícia Federal. É certo que são fitas editadas, como tem repetido o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, mas é certo também que os diálogos ouvidos por CartaCapital existem e, claramente, não são uma montagem. Têm uma seqüência – sem espaços – e uma lógica que indicam extrema dificuldade para uma edição de diálogos.

FILHOS CORRETORES. Das fitas que se conhece, as gravações mais importantes foram feitas entre 21 de julho e 12 de agosto últimos, mas os grampos na sala da presidência do BNDES (os diálogos em celulares são capturados) foram instalados no início deste ano. O alvo principal era o ministro Mendonça de Barros, então presidente do BNDES. Seus adversários buscavam, com os grampos, conversas entre Mendonça e seus filhos, Marcello e Daniel. Nas fitas por ora na praça não há registros de tais conversas. Os filhos do então presidente do BNDES tornaram-se sócios-proprietários de uma corretora na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A Link Corretora de Mercadorias Limitada, registrada na Junta Comercial em 2 de fevereiro, quatro meses depois, em junho, já era a terceira operadora no ranking de volumes de operações no mercado de Índice Bovespa futuro. Cerca de 40% desse índice, então, era composto pelas ações da Telebrás. Empresa sob comando do ministro. E que seria privatizada em operação de R$ 22 bilhões pilotada por Mendonça de Barros, o pai.
PÉRSIO E OS ITALIANOS. O leilão de privatização do Sistema Telebrás deu-se no dia 29 de julho. O central e incisivo numa seqüência de mais de 30 conversas grampeadas é a tentativa de favorecer um consórcio que uniria o banco de investimentos Opportunity e a Telecom-Itália. "Os italianos", como diz o ministro Mendonça de Barros inúmeras vezes ao longo dos diálogos. Favorecer "os italianos" em detrimento do consórcio Telemar, formado pelo Grupo La Fonte (do empresário Carlos Jereissati), a Andrade Gutierrez, a Brasil Veículos, Macal e Aliança do Brasil. O Fundo de Previdência do Banco do Brasil, a Previ, é peça decisiva nas negociações e nos telefonemas. Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, André Lara Resende, Pio Borges, vice-presidente do BNDES, e Pérsio Arida, sócio do Opportunity, combinam como pressionar a Previ para que feche com "os italianos" e o Opportunity.

ENFIM, A EXPLOSÃO. Nos telefonemas, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, chamado de "a bomba atômica", é instado a pedir à Previ que feche com o Opportunity. O mesmo se dá com o diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira. As conversas e a montagem de pressões chegam ao auge quando Mendonça de Barros sugere: — Temos que falar com o presidente. E André Lara Resende responde: — Isso seria usar a bomba atômica. André Lara Resende usa a bomba atômica. Em telefonema, pede ao presidente Fernando Henrique Cardoso: — Precisamos convencer a Previ. Na conversa com o presidente (que também não consta na reprodução das duas fitas em posse do governo), Lara Resende não cita o interesse dos "italianos" que freqüentam seus diálogos com Mendonça de Barros. Ao presidente da República, repassa outra informação: — Os portugueses (Telecom Portugal) estão interessados... No mesmo telefonema para Fernando Henrique, o presidente do BNDES tece considerações sobre a "necessidade de um operador estrangeiro" etrata como "aventureiros" os integrantes do Telemar, que não disporiam de "capacitação técnica". Ao final do telefonema, o presidente diz que vai falar com a Previ. Não se sabe se falou ou não. A Previ ajudou alguns dos seus sócios no consórcio Telemar a bancar o pagamento da compra da Tele Norte Leste. Já o Opportunity ficou com os italianos na Tele Centro Sul.
ProdígioA corretora Link, criada em 2 de fevereiro pelos jovens Mendonças, quatro meses depois era a terceira no Ibovespa Futuro
QUESTÕES SEMÂNTICAS. Outro trecho que parece ausente nas fitas do governo – ao menos de acordo com o relato de Veja –, é a referência ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, e ao secretário executivo Pedro Parente. Conversam Mendonça de Barros e Lara Resende. O ministro das Comunicações refere-se aos companheiros de governo Malan e Parente como "babacas". O ministro Mendonça de Barros, em suas versões orais editadas para a imprensa, tem relatado apenas o carinhoso diminutivo "babaquinha", e dedicando-o apenas a Parente. O ministro Malan e Parente seriam "babacas" por terem aceitado argumentos do consórcio Telemar e, quiçá (aqui trata-se de uma ilação não obtida em fitas), por divergirem do conjunto da obra. A propósito de divergências, há outras entre o que ouviu CartaCapital e o que se divulgou das fitas do governo. Mendonça de Barros, nas fitas, chama integrantes do consórcio Telemar de "ratada", e não "rataiada", conforme relatos oficiais do próprio reproduzidos pela imprensa. As já anunciadas investigações do procurador-geral da República, dr. Geraldo Brindeiro, por certo esclarecerão essa pinimba semântica quanto a roedores. ALGUMAS CONTRADIÇÕES. Mendonça de Barros, que iria ao Senado prestar esclarecimentos na quinta-feira, 19, nesta segunda quinzena de novembro tem repetido, em conversas, os argumentos da incapacidade técnica da "Telegangue", da "ratada " – ou, "rataiada". Informa, ainda, que gestões suas, suprimidas nas fitas gravadas, foram feitas também em favor da formação do consórcio Telemar. Restam, então, duas questões. Por que o ministro, ou quem de direito, não se valeu das regras do processo de privatização para desqualificar uma empresa que não tinha "capacidade técnica"? Por que, uma vez que se tratava de uma "Telegangue", a empresa, mais uma vez, não foi afastada do processo? A intervenção deu-se apenas no instante em que o Telemar comprou a Tele Norte Leste, com suas 16 operadoras de telefonia fixa na faixa entre Rio de Janeiro e Amazonas. Na hora da liquidação da compra, o BNDES interveio e arrebanhou para si 25% das ações do Telemar, alegando tratar-se de um consórcio "chapa-branca", devido às seguradoras terem capital estatal. Mais uma vez, pergunta-se: por que o consórcio não foi desqualificado a tempo? A PEÇA-CHAVE. Vale lembrar. O Tribunal de Contas da União determinou inspeção no BNDES para apurar a legalidade e a regularidade dos atos dos dirigentes da entidade nessa operação. Se o consórcio é "chapa-branca", a ação do BNDES o tornaria ainda mais chapa-branca. Não fosse, é claro, a intenção do ministro em fazer a Telecom-Itália entrar no jogo. Peça-chave em todas as negociações, e nos diálogos grampeados, é a Previ. Recordemos, então, outra porção do processo de privatização, a da Vale do Rio Doce. À época, a Previ, que parecia compor-se com o grupo capitaneado por Antônio Ermírio de Moraes, à última hora bandeou-se para a nau pilotada por Benjamin Steinbruch. O mesmo Opportunity integrou também o consórcio vencedor na privatização da Vale. Mais: o mesmo banco Oppportunity, do mesmo Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central no atual governo, tem assento no conselho de administração da Vale. Segundo palavras do próprio ministro Mendonça de Barros, quando do leilão da Vale, o mesmo grupo de senhores "estimulou a competitividade". O BEM DA PÁTRIA. Revela o ministro que, então, procurou a Previ – que negociava com Ermírio – e pediu que o fundo entrasse no consórcio da CSN. Tudo em nome da competitividade e, é claro, pelo bem da Pátria. Naqueles dias, em entrevista à Veja, Antônio Ermírio bateu duro na operação e cutucou o presidente Fernando Henrique. No domingo, 21 de setembro de 1997, a caminho de Fortaleza, vindo de Sobral, o ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes, disse a CartaCapital: — O Antônio Ermírio é inteligente. Viu que querem engoli-lo, e berrou a tempo. Agora, pode dizer ao presidente que não é bem aquilo o que ele disse, mas não vão mais atropelá-lo. Ermírio não mais foi atropelado. Nos leilões de privatização do setor elétrico no Rio Grande do Sul e São Paulo, a Previ estava ao lado do Grupo Votorantim. No caso do Telemar, em que pesem as pressões de integrantes do governo para que a Previ jogasse preferencialmente com "os italianos" e o Oppportunity, é preciso recordar que o Fundo do Banco do Brasil – que terminaria integrando o Telemar – tem antigas e extensas relações de negócios com o Grupo La Fonte, de Carlos Jereissati. E O QUE DIZ A LEI? Nas fitas, o sócio do Opportunity, Pérsio Arida, não apenas surge em conversas com André Lara Resende, como é anunciada sua presença durante um diálogo. Mendonça de Barros, enquanto negocia com Jair Bilachi, presidente da Previ, para que o fundo se una ao Opportunity informa: — Estamos aqui eu, André, Pérsio e Pio... Ainda nas fitas, ao comentar os mandados de segurança contra o leilão, Mendonça de Barros, em conversa com Lara Resende, cita o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, a quem se refere como "aquele pavão". A propósito de juristas, talvez seja útil recordar alguns artigos da Constituição, da Lei de Improbidade Administrativa e da Lei de Licitações. Diz o artigo 37 da Constituição que a administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, Estados, do DF e dos municípios, obedecerá: ...aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade... Desses, dois são fundamentais. A impessoalidade e a moralidade. A Lei de Improbidade Administrativa, a de nº 8.429, de 2 de junho de 1992, trata de atos de improbidade que causem lesão ao Erário nos termos do artigo 100, inciso 80: Constitui improbidade administrativa frustrar a licitude do processo licitatório. Penas: perda da função pública, suspensão de direitos políticos de 5 a 8 anos... Já a profética Lei de Licitações, a nº 8.666, de 1993, no artigo 90, diz: Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto de licitação. Penas: detenção de 2 a 4 anos. E multa. O artigo 94 da mesma lei, proíbe: Devassar o sigilo da proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiros o ensejo de devassá-lo. Penas: detenção de 2 a 3 anos. E multa. É importante observar: em nota distribuída na segunda-feira, 16, o Ministério das Comunicações admitiu conhecer o valor da proposta do consórcio liderado pelo Opportunity no leilão da Tele Norte Leste. Está dito na nota que a oferta do Opportunity era superior à do Telemar em R$ 1 bilhão. O lance do Telemar foi de R$ 3,43 bilhões. IMPROBABILIDADE ADMINISTRATIVA. A informação, percebida em seu teor, mas não em seu valor nas conversas grampeadas, e reafirmada na nota oficial, surpreende. O lance do Opportunity, ainda lacrado, foi destruído no pregão da bolsa de valores. Recordemos, por fim, o artigo 11, inciso 30 da Lei de Improbidade Administrativa: Revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo. Penas: suspensão de direitos políticos de 3 a 5 anos e multa de até 100 vezes o valor da própria remuneração. Por fim, a Constituição, no artigo 50, inciso 73, reza: Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo à moralidade administrativa. A divulgação da fitalhada, segue duas lógicas. Numa matriz, a de quem grampeou os telefones, ou recebeu o produto dos grampos. A lógica destes é pressionar – chantagear, sustentam o governo e os seus – o governo, ou setores do governo. A lógica na outra matriz é a do governo, no roteiro da divulgação. CONTEÚDO MINADO. No primeiro final de semana de novembro, a fitalhada, junto com o papelório que teria vindo das Ilhas Cayman, surge nas páginas embrulhada como mera chantagem. Pari passu com a armação caymanesca. Em um salto extraordinário, uma semana depois, a fitalhada ganha contornos, e conteúdo, de escândalo para, em seguida, ir tendo seu conteúdo minado. No intervalo, na quinta-feira, 12, em ação incomum até para quem conhece Brasília a fundo, o ministro das Comunicações faz sua edição primeira, oral e antecipada, das fitas. Dá detalhes, minúcias e explicações sobre o quê? Sobre algo que nem sequer se conhecia e que, depois, por ele mesmo seria renegado como um conjunto de montagens. Tudo não teria passado de um enredo de conversas patrióticas, de homens públicos interessados em estimular a competitividade e elevar a Pátria. Apesar da oposição, aqui e ali, dos babacas – ou babaquinhas –, da ratada – ou rataiada – e de um conjunto de comunistas que, à frente, tinha um ou outro pavão. Nem o ministro nem os envolvidos imaginam ter atropelado em qualquer momento algum item de um conjunto que resulta em algo conhecido como Estado de Direito. Grampos telefônicos, ninguém desconhece, ferem também o tal Estado. VERSÕES ESTRANHAS. Se, ao se ouvir as fitas, ou mesmo o que vem dizendo o ministro, alguém manifestar dúvidas sobre onde começa o BNDES e onde termina o Opportunity, assim como o vice-versa, a resposta estará pronta: —Trata-se de uma chantagem, propiciada por grampos, e tudo não passa de uma montagem. Quanto à chantagem, imagina-se que os chantageados sabem o que estão dizendo. Grampos, escuta ilegal, segundo o tal Estado de Direito, dá cadeia. Uma vez que o presidente da República recebeu a fitalhada em mãos, estranha-se que só após o vazamento, quase um mês depois, tenham sido acionadas a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República. Da mesma forma, estranhas são as versões do governo. Primeiro, a captura das fitas teria sido obra dos espiões da agência de inteligência, a Abin. Depois, elas teriam chegado às mãos do general Cardoso após terem sido encontradas debaixo de um viaduto. Há aí um ruído. Como, admitiu o próprio Lara Resende em conversa com o ex-deputado Aloísio Mercadante, o presidente havia recebido as denúncias, fica sem se saber quem foi até o viaduto: o general Cardoso, um dos seus agentes, ou o próprio presidente? ANDRÉ ADMITE. Por fim, a montagem. Nesse quesito, dá-se outro bololô. Ora o conteúdo das fitas é admitido. Lara Resende, por exemplo, ao receber o relato de Mercadante, confirmou a veracidade dos diálogos expostos. O ministro Mendonça de Barros, na suas edições-orais-oficiais republicadas pela imprensa, em um momento dedica-se a explicar o teor de fitas que não têm valor e, noutro instante, empenha-se em desqualificar as fitas. As fitas existem. Os diálogos existem. As fitas ainda são muitas e, com o passar do tempo, mais ainda deverão surgir. Sempre que surgirem, anote, primeiro se discutirá a forma, o grampo (criminoso, ilegal, dá cadeia, como todos já sabem), não apenas por ser isso inescapável, mas de forma que a discussão da forma empane, se possível, o conteúdo. Da junção da fitalhada com o obscuro papelório das Ilhas Cayman, é possível observar algo. O papelório, sem origem oficialmente conhecida e, ao menos até agora, sem confirmação de absolutamente nada decisivo, informa haver uma conta bancária no Exterior em nome do presidente da República, do governador Mário Covas, do ministro José Serra e do finado ministro Serjão Motta.

DIGITAIS COMPROMETEDORAS. O que parece pouco crível (uma vez que, posta de lado a discussão, importante, sobre o caráter dos envolvidos, uma operação do gênero exigiria enorme ingenuidade), torna-se ainda mais estranho quando se sabe o nome de alguns dos personagens da história. Nela, percebem-se as digitais de Fernando Collor, Paulo Maluf, Lafaiete Coutinho, Gilberto Miranda, Cleto Falcão, etc., etc., etc... Ao que parece, seriam 40 ao todo. Não se sabe se a reunião decisiva deu-se no Brasil ou na Flórida. Nem se foi realizada em uma caverna. Porque, ainda que diante da precariedade do até agora conhecido no papelório, dúvidas surjam quando Fernando Collor, com seu rútilo olhar, murmura: "Quero ver se ele (o presidente Fernando Henrique) vai manter toda essa indignação daqui a três meses". Por que o frisson quando um dos 40 alerta que o papelório sustentaria "seis homeopáticos meses de campanha"? O que não existe como comprovado – ao contrário da física evidência das fitas –, sobrevive. Talvez, para buscar uma explicação, seja útil ressuscitar o conceito das duas éticas sempre exposto pelo professor Fernando Henrique Cardoso. RELENDO WEBER. O conceito, segundo os que são do ramo, seria uma cardosiana releitura de escritos do sociólogo alemão Max Weber. Uma das éticas, expôs o professor, valeria para a política e seus interesses. A outra, valeria para o resto da sociedade. Na verdade, sabem todos, é o que acaba se dando. Haveria, no entanto, uma regra nesse dueto de éticas. O que vale para a política deve permanecer subjacente, silencioso. Quando exposto, há o choque, traumático, com a ética da sociedade. Remember o ocorrido quando do vazamento das leis de Ricupero, e da necessidade do seu imediato afastamento. Quando, como no caso da fitalhada, o que deve permanecer subjacente emerge e não são tomadas providências, o embaralhamento das duas éticas leva a um encurtamento de distâncias. Se o que está na fitalhada não é nada, é coisa sem importância, apenas um conjunto de atos patrióticos, torna-se possível que, quem sabe, não soe tão pouco crível algo com as digitais de Collor, Lafa, Maluf e Cia. O presidente da República diz que "deveria estar na cadeia" quem está por trás do papelório, numa clara referência a Fernando Collor. Pois bem: Collor foi condenado a pagar uma multa superior a US$ 1 milhão pelo Conselho de Contribuintes. Valesse uma lei dos dias do próprio Collor, ele poderia ter sido preso. AS DUAS ÉTICAS. A lei, que tratava do Imposto de Renda, permitiu a captura de PC Farias. Porém, enquanto se comiam castanhas e perus, no dia 26 de dezembro de 1995, o presidente Fernando Henrique sancionou a Lei 9.249, na qual o artigo 34 extinguiu a pena de prisão para sonegadores, desde que paguem a dívida antes da denúncia. Lei votada na Câmara com 101 emendas e relatada por quem seria seu ministro mais adiante e havia sido ministro de Collor: o deputado Antônio Kandir. Ainda quanto às duas éticas do professor Cardoso. Quando ambas se confundem, desaparecem os parâmetros. Cayman parecem ser tão reais quanto, por exemplo, os telefonemas no BNDES. Ainda que nem seja. O caso da fitalhada é ainda mais difícil de ser abordado por uma outra característica destes tempos e deste governo. Empresas de comunicação, muitas, são sócias do processo de privatização. Disputaram e venceram nacos da telefonia – celular e convencional –, das TVs a cabo, dos pagers, etc., etc. Negócios de bilhões e bilhões de dólares.

PRESSÕES CRESCENTES. Legalmente, não há problema algum em tais associações, mas, num instante em que surgem severas suspeitas em relação à privatização da Telebrás – onde também estão empresas de comunicação –, como esperar que poderosos setores da mídia investiguem, com o devido apuro e a propalada isenção, um processo ao qual tantos estão, direta ou indiretamente, associados? Não por acaso são crescentes as pressões do ministro das Comunicações sobre determinadas empresas. Não por acaso, em algumas redações, o reportariado – sempre disposto e ávido, é bom lembrar – está a festejar o rompimento do lacre. Como nos idos do governo Collor, pode estar-se aproximando a hora do Grande Salto. Aqui e ali, quem atacava os pessimistas e chorões em artigos, colunas e matérias, começa a criticar os juros – mas não ainda os responsáveis –, as dívidas – mas sem nominar seus autores – e a dependência externa – ainda que sem responsabilizar o responsável. Crise econômica, expectativa de recessão, fitalhada, rumores das Cayman, evidências de disputa – fissura? – no sistema de poder? É hora de se posicionar para o Grande Salto. Governos, por poderosos que sejam, passam. Jornais, revistas, emissoras de televisão, rádio, pretendem ficar. Jornalistas, ainda que confiem pouco na memorabilia amarela, querem permanecer. Dias de ajustes, chi lo sa, para a possibilidade do Grande Salto.