sábado, fevereiro 05, 2011

João Bosco e Vinícius

A música nos impõe, periodicamente, o dever de repensar nossos conceitos. Eu tinha Chitãozinho e Xororó e Zezé de Camargo e Luciano em péssima conta, desde que eles surgiram. Sempre vi o belo em antigos sucessos como A Tristeza do Jeca ou o Menino da Porteira. Não me conformava com a pieguice de algumas letras das novas "duplas sertanejas", nem com a postura deles, que faziam questão de se afastar do passado "caipira" desse estilo musical. Nos últimos dias, porém, passei a sentir uma certa "qualidade relativa" nesses bardos. É que, quase sem querer, descobri o tal de "sertanejo universitário". Ele prova que tudo pode piorar.
Fui à Argentina e fiquei impressionado com o sucesso que esse tipo de música faz naquelas bandas. Nunca tive os argentinos como exemplo de bom gosto, mas não imaginava que a crise tinha produzido tanta decadência por lá. Em especial, ouvi em vários lugares públicos uma "música" da dupla João Bosco e Vinícius, que começa por "não era pra você se apaixonar" (não vou além, pois os versos não valem à pena).
Fiquei bastante irritado com o fato de terem eles escolhido esse nome para a dupla. Os dois nomes eram, até o surgimento desses "cantores", associados a dois grandes nomes da nossa cultura. Hoje se colocarmos no google qualquer dos nomes, aparecerá logo a opção do nome da dupla. Aparecem mais do que os originais João Bosco e Vinícius. Ainda bem que, daqui a 50 anos, caso ainda exista o google, caso algum neto meu ou dos meus amigos resolva repetir a pesquisa, Vinícius de Moraes e João Bosco (original) aparecerão mais ou somente eles aparecerão.
Essa postagem foi apenas um meio de expressar minha indignação. Vou parar por aqui. Em especial porque, daqui a alguns anos, posso ser obrigado a, novamente, pensar sobre o tema, diante dos novos passos da música, e ter que escrever elogiando alguma qualidade nisso que para mim, hoje, não passa de lixo.

2 comentários:

Denise Teixeira disse...

Sou otimista. Vinicius vai ser venerado ainda por muito tempo. Ao menos se isso depender dos japoneses...
So essa garotinha aqui, jà gravou 3 Albuns: http://koizumi-nilo.jp/main_e.html
Duro vai ser se eles quiserem o copyright da Bossa Nova, como fizeram com nosso cupuaçu.

Isaac Reis disse...

Eheheh...tem razão. A diferença entre música, produto da indústria cultura e lixo puro é mesmo muito relativa. E o pior de tudo, muda muito com o tempo. Chitãozinho e Xororó hoje são clássicos do sertanejo.
Então, é realmente preciso ter cuidado.
Pra lembrar Nietzsche, não gosto dessa coisa do "gosto não se discute". Prefiro pensar que a vida inteira é uma discussão sobre gostos.
Então, pelo menos ainda temos o direito de ficar com o nosso...
Abração, mestre.
IR