terça-feira, dezembro 07, 2010

Avaliação, pesquisa de opinião e enquete

Já há alguns anos, o Diretório Acadêmico da FDR-UFPE vem fazendo o que chama de avaliação docente. Anualmente, coloca cartazes em mural com um ranking dos professores. Somos classificados, do melhor ao pior.
Sempre vi com desconfiança essa iniciativa, apesar de ser um entusiasta da idéia de avaliar a atividade docente.
Estamos prestando um serviço público e precisamos ser avaliados. Não apenas a instituição, mas, também, os docentes. O resultado de uma avaliação séria pode orientar decisões administrativas e levar docentes a rever práticas.
No entanto, esses resultados que agora conhecemos em nada ajudam a instituição ou o docente "avaliado".
Toda a "avaliação" é feita apenas com a aplicação de questionários aos alunos.
Uma avaliação precisaria ir além da mera opinião dos outros atores do processo educativo. Precisaria incluir dimensões da atividade docente que são fundamentais e que apenas poderiam ser apreendidas com análises mais aprofundadas da atuação do avaliado. Um exemplo, que é risível, é o quesito "produção intelectual". Como avaliar esse quesito sem ver o que o docente publicou? Perguntam a um aluno que nunca viu nada publicado por nenhum docente que nota ele daria à produção de cada professor. Um com alta produtividade pode ter nota quatro, enquanto alguém que nada publicou pode ter dez.
Na verdade, essa avaliação não chega a ser nem mesmo uma pesquisa de opinião. Para isso, precisaria observar métodos de escolha de amostra, estatisticamente fundamentados, o que não é feito. Há uma advertência no cartaz, tentando dar seriedade à iniciativa, dando conta do fato de que apenas foram considerados docentes com mais de dez respostas de alunos. Isso não quer dizer nada.
Era necessário saber quantos alunos o professor teve, de que turmas os entrevistados eram, como foram escolhidos, dentre outros dados.
Perguntando, na saída do Estádio dos Aflitos, em dia de jogo do Náutico, no campeonato brasileiro, pra que time pernambucano os entrevistados torcem, terei forte probabilidade de dizer que ele tem a maior torcida do Estado. Não importa se entrevistei cem ou mil pessoas.
Essa "avaliação" não passa de uma enquete, ao estilo daquelas que estão em sites da internet, perguntando sobre coisas importantes, sem qualquer pretensão de representar a opinião pública. A diferença é que aquelas enquetes são acompanhadas de advertências quanto à ausência de valor estatístico de seus resultados. No caso da "avaliação", tentam os avaliadores fazer o ranking, que, possivelmente, orientará alunos na matrícula, quando houver opção entre um professor "bom" e um professor "fraco".
Não há, sequer, a submissão dos dados usados para "avaliar" os docentes a uma auditoria. Não há como saber se foram realmente questionários respondidos por alunos daquele docente, nem sabemos quantos alunos responderam.
Ainda cabe falar do problema ético que envolve, com base nesses dados, expor publicamente docentes a essa classificação. Há alguns anos, a Unicap divulgava a nota dos alunos em murais, nos corredores. Qualquer um poderia saber as notas dos colegas. Nos últimos anos, foi adotada outra orientação. Agora, apenas o aluno tem acesso à sua nota. A divulgação em mural proporcionava uma exposição inadequada dos alunos, permitindo que outros fizessem uso das informações em prejuízo do principal interessado.

2 comentários:

Isaac Reis disse...

Toda avaliação depende de objtetivos previamente traçados, que determinam o perfil, as questões, os indicadores etc.

Na verdade, é preciso que a avaliação em si mesma seja discutida. A iniciativa dos alunos talvez se deva à omissão tradicional dos Cursos em fazê-la.

Talvez a coordenação pudesse tomar a iniciativa e organizar um processo mais qualificado, em que não apenas os professores, mas todo o processo de ensino aprendizagem fossem avaliados por todos os atores envolvidos.

Sem isso, as "avaliações" servirão apenas como meio de execração pública de docentes, segundo critérios pouco claros e isentos.

É sempre bom ler teus textos, Mestre.

Ivson Olivera disse...

Uns dois meses atrás, eu e uns amigos (para não dizer Grupo Aliança XD)estávamos pensando exatamente sobre isso. Existem ali critérios subjetivos (e esses até podem continuar a serem avaliados da forma atual) e outros que definitivamente não são. Pontualidade e Assiduidade, além de produção científica, por exemplo, são critérios numéricos, objetivos. Isso deveria ser contado pra chegar ao resultado. Não acredito que Daniel Meira seja tão mais faltoso que Torquato, mas as notas foram mais ou menos 3 para o primeiro e 7 para o segundo, no quesito assiduidade, se não me engano. Enfim, não acredito na seriedade desse formato de avaliação.